“A mãe de Pedro Julião Eymard, Maria Madalena Pérlose, era muito piedosa; não deixava passar um dia sem ir ajoelhar-se ao menos por alguns minutos, na Igreja.
Certo dia, no momento de partir, vê seu pequenino Julião, ainda em faixas, que lhe parece estender os braços. A mamãe acomoda o filhinho nas dobras de seu avental e uma vez na Igreja, toma-o nas mãos, apresentando-o, ao soar a campainha, e entre os transportes de seu coração materno, à bênção traçada pelo Ostensório. Maria Madalena, de então em diante, fará sempre assim, quando for dada a bênção para os agonizantes, pois o pequeno, mantendo-se quieto, não perturba o recolhimento. Disse alguém que a educação de uma criança começa aos quatro meses: assim aconteceu com a educação eucarística de Julião Eymard.
Quando já um pouco crescido e sabendo andar sozinho, sua felicidade será acompanhar sua mamãe à Igreja. Segundo a declaração de uma testemunha, jamais ele dizia: “Vamos embora”. Jamais também a mamãe viu-se obrigada a deixar a Missa ou a bênção por causa do filhinho.
Desde pequenino teve ele o sentimento da presença real. Com seis anos apenas, acompanhava com um profundo olhar sua mamãe e sua Irmã, quando estas se aproximavam da Santa Mesa. Certa manhã, ao votar da Igreja, Mariana tomando Julião sobre os joelhos, o irmãozinho recostou-se afetuosamente sobre ela, dizendo-lhe: “Oh! tens um cheiro de Jesus !”
Por volta dos sete anos, mais de uma vez o pequeno Eymard saiu de casa, ausentando-se por alguns minutos, sem ousar dizer onde ia. Seus pais, entretanto, não o repreendiam: sabiam que ele ia à Igreja. Um dia, porém, inquietaram-se, porque Julião tardava a chegar. Annette Bernard, sua irmã de leite, foi mandada à Igreja, procurá-lo. Mas, na penumbra da nave, Julião não estava. Onde teria ele se escondido para rezar? Teria tido a audácia de penetrar no coro? Ajoelhada na Mesa da comunhão, Annette inspeciona as “stalles”. Julião não está. Vencendo sua timidez, a menina vai olhar até mesmo atrás do altar. Que descobre ela? O pequeno, de joelhos, na escada que serve ao Sacerdote para expor o Ssmo. Sacramento. Com a cabeça apoiada no Tabernáculo, Julião permanece imóvel.
“Há quanto tempo te procuramos!… exclama Annette. Que fazes tu aí?
– Ora minha oração!
– E porque a fazes tu no alto da escada? Em que pensas tu?
E Julião responde, mostrando, com um gesto, o Tabernáculo onde Jesus repousa: “N’Ele… aí, o escuto e O entendo melhor.”
Não é de estranhar, portanto, que em suas notas íntimas, ao enumerar mais tarde as graças recebidas no decorrer da vida, escreva ele: “Graça da comunhão. O sonho de meus oito anos: tudo para ela.”
Julião fazia parte dos meninos do coro; chegou mesmo a ser cerimoniário. O costume exigia, em La Mure, do que estava escalado para acolitar a Missa, que, durante o quarto de hora que precedia, percorresse as ruas, chamando os fiéis com o toque de uma campainha. Era um oficio muito caro a todos os coristas, que mesmo o disputavam. Julião, se fosse possível, desempenhá-lo-ia diariamente. Em todo caso, lançara mão de um estratagema, a fim de poder anunciara a Missa com mais frequência do que lhe permitia o turno dos coristas: passando à tarde pela Igreja, muitas vezes cedia à tentação de tomar a campainha e levá-la para casa; prevenia assim toda concorrência.
Mas, será que Julião não tinha defeitos? Sua fronte larga e boleada denotava teimosia. Em seus olhos vivos, perpassavam relâmpagos, não raro; verdade é, porém, que as doces reprimendas da mamãe desfaziam esses ímpetos passageiros. Julião era também curioso e perscrutador; apesar das proibições expressas, era surpreendido explorando armários e cartazes. Repreendido severamente certa vez, prometeu corrigir-se e cumpriu sua palavra.”