O Salvador dizia com freqüência aos Seus discípulos que era necessário que Ele sofresse. Ele anunciou até 6 vezes Sua Paixão. Ele assim fez para prepará-los para este ato: o escândalo do mundo; e, no entanto, os discípulos não compreenderam nada disso.
Portanto, por que essa necessidade de sofrimentos em Nosso Senhor? Porque Ele era Reparador. O pecado era um prazer: o que repararia o pecado devia ser uma pena. Amar para gozar é insultar aquele que se ama; amar até sofrer, eis o verdadeiro amor: o amor se dá, se sacrifica, é seu selo. Não era necessário que o Cristo sofresse assim para entrar em Sua glória? Isto é dito também de nós que devemos retraçar Jesus Cristo em nós, pois nossa santidade está baseada sobre a Cruz.
Não existe virtude sem sofrimento. O sofrimento é a geração da virtude em nós. Aquele que não sofreu não sabe o que é a virtude. Como o Salvador sempre glorificava o sofrimento, os Apóstolos não compreendiam nada; chegavam até a cortar-Lhe a palavra: eles tinham medo de compreender que para ir para o Céu, é preciso sofrer.
Mas desde esta vida presente, o Salvador promete a glória depois do sofrimento; foi o que Ele fez em Sua Ressurreição: se Ele tivesse somente glorificado o Céu depois da morte, quão poucas almas teriam abraçado a fé; o céu é muito distante. É preciso uma recompensa presente: a graça, não a graça santificante, mas a graça de favor, de alegria.
Na Ressurreição, o Salvador glorifica Sua Paixão e o sofrimento; Ele triunfa, Ele mostra que ela é bela, gloriosa para Deus.
Todo o amor, todos os milagres do Salvador não bastam para abafar o escândalo da Paixão. Eles não crêem na Ressurreição. Madalena está em delírio, dizem eles. Pedro e João acreditam que O raptaram. Os discípulos de Emaús estão tristes. Os Anjos que anunciam a Ressurreição, ao invés de consolá-los, os apavoram. Eles não lhes dão crédito, estão ainda sob o escândalo de Seus sofrimentos.
Jesus Cristo ressuscita para glorificar a verdade, para sancionar a justificação pela Cruz.
Apenas Ressuscitado, a glória Lhe vem na medida de Seus sofrimentos. A cabeça sofreu mais n’Ele: ela é mais gloriosa. Colocas uma coroa de ouro em Sua cabeça [Sl 20,4]. As mãos são sóis brilhantes; Seu coração transpassado, uma fornalha ardente. Jesus Cristo é glorificado porque Ele sofreu. Vede como Ele está Glorioso: Ele entra na plenitude da vida divina; Seu Corpo tem as propriedades dos corpos celestes. É Ele o Leão de Judá? [cf. Gn 49,9; Ap 5,5] Quem ousará combater contra Ele? Ele tem um enxame de abelhas na boca. São Suas palavras. Ele é forte e manso. Não se sabe qual foi a medida da alegria e da felicidade do Salvador após a Ressurreição, porque não se sabe a medida de Seus sofrimentos. A Ressurreição é a glorificação do sofrimento atual.
Ele Se manifesta em seguida pleno de vida. Ele mostra que Seu Corpo é verdadeiro. Ele realiza ações humanas como antes.
Ele glorifica o sofrimento dando a vida ao Seu corpo morto.
Ele é Deus e Homem Ressuscitado.
A glória não se manifesta inteira exteriormente. Os discípulos teriam sentido medo: eles tiveram medo de um Anjo, o que sentiriam com Deus? Jesus Cristo guarda a Sua Glória completa para a Ascensão e para o Céu. Aqui Ele mostra Sua Glória humanizada. Nós precisávamos ver a necessidade da humildade com a glória. Mesma doçura, mesma forma, mesma afabilidade em Nosso Senhor, Ele não Se afasta.
Ele nos leva assim ao estado Sacramental onde Ele une ainda a Divindade a frágeis espécies criadas. Ele pode mudar de forma, não de natureza.
Bem mais, a Ressurreição é uma comunicação da bem-aventurança. Ele aparece àqueles que sofreram com Ele e Se une a eles. Ele comunica a cada um a felicidade na medida de seus sofrimentos. Aparece em primeiro lugar a Maria, esta é a tradição. Maria sofreu tanto como Mãe; Ela, tão pura, deve ter sofrido tanto por causa do pecado e pela ofensa que ele é para Deus. Seus sofrimentos são inspirados unicamente pelo amor. Eles são contínuos. Pois não se explica que Nosso Senhor tenha sido tão duro com Ela. É preciso pensar então em Seu título de co-Redentora; de outra forma seria um escândalo. O bom filho honra a mãe, evita-lhe as lágrimas. Jesus humilhou Maria. Foi duro em palavra. No caminho do Calvário, Ele consola as filhas de Jerusalém; à Sua Mãe, não diz nada. Por quê? Ah! Maria não tem necessidade de consolação. Este belo Jardim se cultiva cravando nele o ferro; este belo diamante é provado na fornalha ardente. Na Cruz Jesus continua Suas durezas. Mas após a Ressurreição, quem dirá as bondades de Jesus por Maria?
No entanto, os evangelistas não dizem nada. Eles falam de Simão: esse Simão que tinha negado Seu Mestre. Eles falam de Madalena. De Maria? Nada. Ah! As palavras lhes faltam! Que abraços, que alegria!
Maria sofreu tanto, agora Ela goza tanto mais. Jesus aparece em seguida a Madalena. Madalena sofreu muito porque muito amou. Ela permanece junto ao Sepulcro. Chora; olha uma vez, duas, três; ela é finalmente recompensada; ela vê o Mestre. Mas ela não recebe glória. Por quê? Porque não teríamos podido falar-Lhe; a glória é para o Céu, para este mundo é a graça.
Não peçais cruzes. Aceitai a que tendes, contentai-vos com ela; aceitai também a alegria, a ressurreição, a graça; é o começo da bem-aventurança. Maria! Que palavra! Reconhece-se bem esta voz. Rabboni! [Jo 20,16] Como ela corresponde bem.
Ele aparece a Pedro que tinha chorado que tinha sofrido; Ele o preenche, devolve-lhe a alegria.
A Ressurreição é uma graça de alegria. O Salvador Se digna consolar em particular aqueles que mais sofreram. Direis, eu não estava lá. Isso não quer dizer nada, a graça da Ressurreição continua. Sofre-se, logo depois nos vem a alegria. Nós sentimos bem isso. Se Deus não nos encorajasse, nós não permaneceríamos aos Seus pés.
(Conferência feita por São Pedro Julião Eymard em 23 de abril de 1865
Obras Completas / Volume XII)