As conversões que se operam sem meditação são como um edifício construído sobre a areia movediça do mar; à menor tempestade tudo desmorona, porque não está construída sobre a rocha da verdade imutável [Mt 7,26-27].
Com efeito, considera-se que se uma pessoa cumulada de todos os crimes possíveis, escrava desde há muito tempo das mais tirânicas paixões, consente em fazer, como for possível, um Retiro de oito dias, ela sairá dele, toda transformada e renovada. Santo Inácio considerava como segura a conversão de uma alma que consentisse em fazer os exercícios do Retiro. O Espírito Santo disse: ‘Lembrai-vos de vossos fins últimos, e não pecareis jamais’; com maior razão, não se permanecerá no estado de pecado mortal. Com efeito, quem ousaria pecar, se pensasse seriamente na morte e no Inferno? O demônio faz todos os esforços possíveis para nos desviar da meditação, ele faz em relação aos pecadores o que os Filisteus fizeram com Sansão para perdê-lo [cf. Jz 16,21]; ele cega-lhes os olhos e os impede por todos os meios de entrarem em si mesmos. É uma experiência comprovada, todas as verdadeiras conversões começaram pela meditação. Para se converter, o que é preciso? A fé, a humildade, a confiança. Ora, a fé é uma convicção das verdades divinamente reveladas, portanto é preciso uma reflexão profunda que de alguma forma considere o alcance e a excelência dessas verdades.
A humildade é o conhecimento de si mesmo, seguido do sentimento de sua miséria: é preciso, portanto, pesar-se a si mesmo, analisar-se, meditar seu nada. A confiança repousa sobre a bondade e a misericórdia infinita de Deus: é preciso, portanto, conhecê-la, e desse conhecimento que toca o coração e lhe faz dizer, como o filho pródigo, levantar-me-ei e irei para meu Pai; e ele se levanta e parte [cf. Lc 15,18-20].
Em segundo lugar, a meditação é o meio necessário para sustentar e aperfeiçoar a conversão.
A conversão é um nascimento, uma renovação completa do homem pecador, de seus pensamentos, seus desejos, é o princípio de suas ações, de suas esperanças; tudo mudou de finalidade e de motivo. A esta nova vida, é preciso um alimento para sustentá-la; este alimento é a meditação, que mostra continuamente ao homem o fim para o qual ele deve tender e lhe lembra sem cessar os meios sempre graves, sempre decisivos, sempre imperiosos de seguir sua primeira resolução. Mas se a meditação vier a faltar, logo a vivacidade da fé começa a enfraquecer, as resoluções titubeiam, a piedade esfria; é como uma lâmpada que é alimentada apenas por algumas gotas de óleo; como uma planta que é regada somente a longos intervalos. Por isso quando se vê uma conversão se afrouxar, que se procure a causa dessa infelicidade na negligência da meditação.
Um dia Santa Tereza escrevendo ao Bispo de Osma dizia-lhe: O Senhor me fez conhecer que faltava à vossa santidade o que é o mais indispensável (se os fundamentos faltam, todo o edifício desmorona), a saber: a oração. Daí vem a aridez da alma, pela falta de oração; ora, a oração negligente é, portanto, a fonte da maior parte dessas penas interiores que tanto fazem sofrer uma pobre alma que quer ser de Deus, mas como um servo que quer obter os favores de seu senhor sem nada fazer.
São Tomás não receia dizer que a verdadeira devoção, tão importante na vida espiritual, nasce da meditação; pois ela é esta fonte de água viva da qual Jesus Cristo fala à Samaritana, que não se esgota, que rega a alma, torna-se sua bebida habitual, fecunda-a e a leva a dar frutos para a vida eterna; é a pedra filosofal que transforma tudo em ouro da caridade. Feliz a alma que se afeiçoa à meditação como à sua vida, pois é o tesouro escondido do qual fala o Evangelho, a pedra preciosa para cuja aquisição é preciso vender tudo; ou seja, uma alma que quer avançar no amor de Deus, deve dirigir todos os seus exercícios de piedade para a graça da meditação, a fim de obtê-la, fortificá-la e aperfeiçoá-la. Uma vez que se torna habitual, os livros piedosos, as exortações espirituais, os conselhos de homens de Deus podem lhe faltar, mas ela encontra tudo na meditação; aí ela tem por Guia e por Mestre o Espírito Santo; é aí que ela aprende a desprezar as vaidades do mundo, a despojar-se do homem velho. A oração a associa aos coros dos Anjos e a faz participar de suas celestes alegrias; por ela a alma se une ao seu Deus por um mistério de amor que só é conhecido por Deus e pela alma na qual se opera esta tão feliz e tão beatificante transformação.
Depois de tão maravilhosos efeitos da oração, não devemos nos admirar se os Padres da vida espiritual recomendam tão fortemente este santo exercício. Gerson diz que sem um milagre, é impossível chegar à perfeição sem o socorro da meditação. Dir-se-á: mas as orações vocais podem bem substituí-la? Não, jamais! Já que as orações vocais tiram todo o seu mérito e sua eficácia somente do espírito de meditação que as anima, e sem esse espírito elas não são mais do que uma palavra morta e um som vão.
Enfim a meditação é um penhor de salvação.
‘Uma árvore, diz o Profeta, plantada ao longo de um rio está sempre verde, sempre fecunda.’ [Sl 1,3] Assim uma alma que cada dia faz sua meditação é sempre fecunda em boas obras. Dificilmente ela sucumbirá no pecado, diz Santo Afonso de Ligório, e se infelizmente ela vem a pecar, raramente ela perseverará nesse funesto estado: ou ela deixará a oração ou renunciará ao pecado, pois a oração e o pecado não podem permanecer juntos.
Uma alma, mesmo que ela seja um pouco negligente, diz Santa Tereza, se ela persevera na oração, Deus a conduzirá certamente ao porto da salvação.
Depois de tais autoridades, não há mais como duvidar da eficácia e da necessidade da oração mental; foi somente por esse meio que todos os Santos chegaram a esta sublime perfeição que nem mesmo os ímpios podem deixar de admirar.
Coragem e confiança, se no começo custa um pouco, lembremo-nos de seu fim; o agricultor não pensa em sua fadiga diante de uma rica colheita. Que felicidade para mim! Se Nosso Senhor me concedesse a graça, não digo de vos ensinar aquilo que é tão somente um dom de Deus, mas de vos levar a apreciá-lo e de vos animar a ser-lhe fiel até à morte. É a grande graça que pedirei todos os dias a Deus por meio da Santíssima Virgem e de São José.”
(Conferência feita por São Pedro Julião Eymard
aos membros da Ordem Terceira de Maria em 2 de junho de 1846)