Vendo este povo religioso e cristão comprimir-se em torno desse altar, não diríamos que Jesus Cristo está aqui sob uma forma humana, e que Ele ainda está Vivo como nos dias de Sua Vida mortal. Não nos parece ouvi-LO anunciar aos Seus discípulos as belas verdades que Ele nos trouxe do Céu e dizer-nos a todos: Vinde, meus filhos, escutai-Me [Sl 33,12].
Ou melhor ainda, não somos levados a pensar que Ele ainda está no Cenáculo com Seus Apóstolos, dos quais somos as conquistas, e que lá Ele nos distribui também Seu Corpo e Seu Sangue como uma prova de Seu amor e de Sua ternura por nós? E não podemos dizer que se cumpre aqui o que nos relata São João em seu Apocalipse tocando Jesus Cristo, o Cordeiro Pascal que Se imolou para nossa Salvação, quando ele no-LO apresenta elevado sobre um Trono ao lado de seu Pai, cercado de toda a Corte Celeste, dos coros dos Anjos e de toda a Milícia Santa que O proclamam à porfia como seu Rei, seu Senhor e seu Deus, que vêm prestar-Lhe homenagem depondo sua coroa aos Seus pés, e que em sua alegria exclamam todos unânimes: “Sanctus, Sanctus, Hosana, ao novo Filho de Davi que por Sua Cruz triunfou do mundo e do inferno.” [cf. Ap 4,8]
Sim, meus irmãos, o que São João viu se realizar no Céu, executa-se aqui neste Tabernáculo. É o mesmo Jesus Cristo que, reinando no Céu, reina aqui no coração de todos os homens. É este mesmo Salvador que Se familiariza de alguma forma conosco, que Se despoja de todos os ornamentos de Sua Glória para conversar conosco como um Pai com Seus filhos, como um Amigo com Seu amigo. “Encontrei minhas delícias, diz Ele, em estar com os filhos dos homens.” [Pr 8,31]
Aqui sobre este Altar se encontra este Soberano Legislador que, do alto deste Trono, nos dita ainda leis, ou antes, nos prende ainda com novas cadeias, cadeias de amor. “Vinde, vós todos que gemeis sob a escravidão do demônio, rompei vossos laços e tomai Meu jugo, exclama este Vencedor dos corações, pois ele é leve e suave; e servindo-Me, encontrareis a paz e a felicidade.” E encontrareis descanso para vossas almas [Mt 11,29].
Portanto, vamos todos, meus irmãos, para Jesus. Entremos todos no espírito da festa que a Igreja, sempre guiada pelo Espírito Santo, instituiu para render ao Coração de Jesus, sempre abrasado de amor pelos homens, um culto solene, um culto de Adoração.
Honramos os restos mortais dos Santos, e isto para prestar homenagem às virtudes daqueles que lhes deram vida, referindo-as a Deus, que é o princípio de toda virtude.
Portanto, se este culto é legítimo, como o declarou o santo Concílio de Trento, o culto que prestamos ao Coração de Jesus torna-se necessário, pois toda santidade vem d’Ele. Celebramos a Festa do Nome adorável do Salvador, das cinco chagas da coroa de espinhos, da lança que abriu Seu Coração; era, portanto, conveniente que se honrasse com um culto particular este Coração que nos amou tanto, este Coração generoso que tanto sofreu por nós.
Vós o sabeis, o coração é o centro do amor, ele é o próprio amor, já que ele o produz, e que frequentemente o efeito se toma pela causa; logo, não se deve pensar que quando digo que devemos adorar e amar o Coração de Jesus, quero falar somente deste Coração de carne semelhante ao nosso, e separado da Divindade do Verbo.
Não, meus irmãos, quando digo que devemos adorar e amar o Coração de Jesus, penso neste Coração tal qual Jesus Cristo O tinha na terra, e como Ele O tem agora no Céu e no Santíssimo Sacramento, ou seja, Seu Coração divinizado, Seu Coração ainda agindo, amando e capaz de sentimentos e de ternura.
Ou melhor, se não me explico com a devida clareza, é Jesus amante que se deve amar, é por Jesus sofrendo e morrendo, é por Jesus permanecendo todos os dias conosco no Santíssimo Sacramento que devemos respirar, viver e morrer, eis os dois fins que a Igreja se propôs na instituição desta festa.
(Trecho de uma Pregação de São Pedro Julião Eymard, feita na
Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – Obras Completas / Volume X)