Que fez Jesus após Sua Morte na Cruz? Sua Alma, sempre unida à Divindade, desceu à mansão dos mortos para retirar daí os justos que aí estavam encerrados e suspiravam por Sua vinda já há muito tempo. Notai nesta ação de Jesus duas grandes virtudes.
A primeira: a humildade. Jesus desce à mansão dos mortos que era, como nos diz Isaías, uma prisão [Is 42,7; Is 24,22]. Às profundezas da terra, diz São Paulo [Ef 4,9]. Pela boca do sábio Ele tinha prometido: ‘Descerei aos lugares mais profundos da terra, visitarei todos os mortos e iluminarei todos aqueles que esperam no Senhor.’
A segunda virtude de Jesus é a caridade. Ele poderia com uma palavra fazer sair estas santas almas da mansão dos mortos, como Ele fez com Lázaro no túmulo. Ou ainda, Ele poderia ter enviado um Anjo libertador; mas não! O amor vai pessoalmente, ele não descansa em ninguém para levar o tributo de seu amor, ele vem pessoalmente: é o que fez Jesus.
Oh! quem dirá a glória, a felicidade destas primeiras conquistas de Jesus? O que deve ter se passado então na mansão dos mortos tornada um novo paraíso, porque o Céu está em toda parte onde está Jesus, Ele muda tudo em delícias. E não tinha Ele dito ao bom ladrão: ‘Hoje estarás comigo no paraíso.’ [Lc 23,43]
Quando Jesus ressuscitou, o Pai Celeste ordenou aos Anjos, diz São Paulo [He 1,6], que descessem do Céu à terra para vir adorar seu Deus, seu Rei, e toda a Corte Celeste veio adorar Jesus sobre o Calvário. Sobre este trono de Seu amor, unamo-nos ao Céu e à terra para adorar Jesus e Jesus Ressuscitado. Pois foi por nós que Ele ressuscitou.
A primeira visita de Jesus foi à Sua Santa Mãe, ainda acabrunhada de dores pela lembrança de Seus sofrimentos e de Sua Morte. Ela rezava, Ela suspirava pelo momento de Sua Ressurreição, o amor não dorme! Ele vela [cf. Ct 5,2], ele se alimenta do prazer ou da dor daquele a quem ama. Maria chamava Seu Divino Filho com todo o ardor de Seu amor, quando de repente Ele entra acompanhado de todos os Anjos e de todos os Santos. Oh! o que deve ter se passado então! Quem dirá as ternuras mútuas de Jesus e de Maria, do Filho e da Mãe, e de um tal Filho e de uma tal Mãe! Quem dirá estes doces abraços depois de uma tão cruel ausência e de tantas dores. Oh! como Maria deve ter beijado com felicidade as divinas chagas de Seu Jesus e sobretudo a chaga de Seu Coração! Pois das chagas de Jesus fluíam raios de luz como sóis deslumbrantes.
Então, Maria teve a felicidade de ver Seu pai e Sua mãe que tinham acompanhado Jesus, Simeão e Ana que O tinham abençoado, São João Batista que Ela tinha santificado e amado como o amigo do Esposo Celeste. Mas que felicidade para Ela ver São José, Seu virginal esposo, que Ela tinha amado como um pai e servido como Seu amável senhor. E por sua vez todos os Santos se prostraram aos pés de Maria para agradecer-Lhe por lhes ter dado Jesus, eles A honraram como Sua Rainha; os Anjos se uniram a eles e Maria foi saudada Rainha do Céu e da terra!…
Transportemo-nos aos pés de Maria, felicitemo-LA também por Sua felicidade; Sua felicidade faz a nossa. Ela é nossa Mãe, nós somos Seus filhos.
(das Obras completas de São Pedro Julião Eymard – Volume XI)