Jesus reinará como os outros soberanos, Ele reinará pela Eucaristia. Ele terá Seu serviço régio, Sua Lei, Seus exércitos. Sua realeza será a vida e a glória de todas as outras. Examinemos o caráter do Serviço régio de Jesus, de Sua Lei e de Sua Glória. E queira Deus que façamos desse Serviço o mais belo triunfo!
Todo soberano tem um palácio, uma família, uma corte, uma guarda de honra; o Rei dos reis tem direito a todas essas homenagens.
O palácio do Rei Eucarístico é belo, mas da beleza do amor; é a Divina Eucaristia que é toda a sua beleza. Jesus tem realmente alguns palácios magníficos, nos quais a arte, as riquezas, tudo o que existe de belo honra Aquele que os habita. Tudo deveria ornar o Templo do Deus da Eucaristia.
Um rei tem somente um palácio real, centro de seu reino. Ele pode habitar somente um, já que ele tem só uma presença, uma personalidade. Jesus tem vários palácios, milhares de palácios. Ele os tem por toda parte, pois Ele não Se empobrece ao Se dar – Ele traz consigo Sua beleza, Sua bondade, o Céu. Ele pode Se multiplicar por toda parte onde há um Templo, um Altar e um Sacerdote – isso estava predito (Meu Nome será grande entre as nações, e em todo lugar será oferecido ao meu Nome um sacrifício de incenso e uma oferenda pura [Ml 1,11]).
No entanto, no mundo, encontra-se muitos palácios, templos de Jesus abandonados, profanados, em ruínas. Por quê? Será que o Rei Celeste não podia mais habitá-los? O número de templos é limitado? Ah! Existe uma outra causa. Jesus permaneceu como o último nesses templos; não havendo mais aí adoradores, não recebendo mais Ele homenagens puras, mas antes irreverências, profanações, sacrilégios, Ele abandonou esses templos, deixou esses povos ingratos, foi para mais longe. Ah! Fica conosco, Senhor, pois já é tarde [Lc 24,29].
Um rei tem uma família real.
Jesus também. Uma piedosa e santa família vela, adora, ama e serve em torno d’Ele. Assim sob o mesmo teto habita o Rei dos reis e a família de Seu Coração. Oh! que consolação! Ao menos Jesus não está só, abandonado! Oh! santo desejo de partilhar essa felicidade! Quantas almas puras, generosas gostariam de entrar nesses santuários de amor, nessa família de Jesus!
Um rei tem uma corte.
Jesus tem uma corte: é a Santa Igreja; por isso ela O serve com respeito e amor. É a Santa Igreja com todos os seus filhos. Bela, a corte de Jesus; os povos e os reis, os sábios e os guerreiros, os pobres e os ricos, os grandes e os pequenos, tudo forma a Sua corte.
Jesus tem Seu Trono, Suas festas régias, as homenagens públicas – a Festa de Corpus Christi: existe somente um Rei neste dia.
Um rei tem uma guarda de honra.
E por que o Rei da Eucaristia não tem a Sua? É porque Ele não paga com o preço do mercenário, Ele não tem dignidades humanas a dar, recompensas honoríficas. É o amor que deve formar Sua guarda, e o amor não se paga. O amor é sua própria recompensa.
Jesus no Santíssimo Sacramento tem bem poucos súditos inspirados pelo amor. É que a escravidão do mundo é tal que o homem não tem mais tempo para a religião, para Jesus Cristo. É que a fé se vai e o fogo do amor se extingue.
Um rei é legislador – o caráter da lei mostra o caráter do rei e a natureza de seus súditos.
Jesus é o Soberano Legislador como Ele é o Soberano dos reis. Sua Lei Eucarística é uma lei de amor e nada além de uma lei de amor.
Toda lei tem uma publicação, uma sanção. A publicação da lei do temor no Sinai foi feita em meio a relâmpagos e trovões. O povo tremia de pavor [cf. Ex 19,16].
A lei de amor é publicada no Monte Sião no Cenáculo – na Mesa Eucarística após a Ceia, após a Comunhão, quando Judas saiu, Jesus formula assim Sua Lei: Assim como o Pai me amou também eu vos amei. Permanecei em meu amor [Jo 15,9].
Este é o princípio – eis o seu fruto: Se observais meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos digo isso para que a minha alegria esteja em vós (o amor produz a alegria) e vossa alegria seja plena (Jo 15,10-11). Jesus acrescenta: Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei [Jo 15,12]. Eis o fruto da árvore, o exercício, a prova do amor: Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros [Jo 13,35].
Qualidades dessa Lei.
Essa Lei de amor é simples. “Amai.” Eis toda a Lei.
Mas ela encerra todas as leis, ela proclama todos os deveres, ela impulsiona a todo tipo de dedicação.
Partamos, portanto, dessa Lei de amor, do Cenáculo como os Apóstolos, do fogo divino como a chama. Oh! como nossas virtudes seriam belas e puras, belas e puras como os raios do sol, como correríamos na senda do dever, da perfeição.
A glória do rei está em seu poder e seu poder no amor de seus súditos, na dedicação de seus soldados.
Aqui o poder de Jesus ultrapassa todos os poderes. Seu amor é o amor régio, tudo Lhe está submisso, tudo depende d’Ele.
Nada pode vencer o amor régio de Jesus Cristo. Seus combates são os combates do amor. Há mais de dezoito séculos, Jesus é amado e Ele o será até ao fim do mundo. O fogo aceso em Seu Altar não se apagará. Sua chama deve cobrir o mundo, incendiá-lo – Eu vim trazer fogo à terra [Lc 12,49].
Mas são necessários incendiários eucarísticos. Jesus os tem – é o Sacerdócio, os Padres – sua missão é lançar o fogo. E cada fiel é soldado do amor.
O estandarte do combate, da honra, é a Eucaristia – é o lábaro eucarístico. Cada um deve fazer conhecer, amar e servir o seu Rei, eis o apostolado de todo cristão. Adorá-LO, amá-LO, servi-LO regiamente, eis a virtude de todo adorador; venha a nós o Vosso Reino [Mt 6,10] e eis sua oração de cada dia, de cada hora. Oh! sim! Vivei e reinai, ó Divino Rei.
(Trecho de um escrito de São Pedro Julião Eymard – Obras Completas / Volume XII)