“Jesus Cristo tinha dito a Seus Apóstolos antes de morrer: ‘Não vos deixarei órfãos, mas virei a vós e estarei convosco até à consumação dos séculos.’ [Jo 14,18] Eis a promessa, e eis o seu cumprimento: seu cumprimento, meus irmãos, é este: Jesus Cristo está aí em nossos Sacrários; Ele aí permanece dia e noite. Enquanto houver um Sacerdote sobre a terra para encarná-LO no Altar e imolá-LO neste Calvário Místico, Jesus Cristo permanecerá no meio de Seus filhos.
Eis uma parte da promessa cumprida, nós possuímos Sua Pessoa Sagrada; mas na Santíssima Eucaristia Jesus Cristo está invisível e Ele guarda um profundo silêncio. Gostaríamos de vê-LO ou ao menos escutar Sua Voz, então não teríamos mais o que invejar da felicidade dos primeiros fiéis. Pois bem, nossos desejos serão satisfeitos; Jesus Cristo, por um prodígio inaudito de amor, inventou em Seu Poder um segundo modo de Encarnação, mais admirável do que Sua Encarnação no Seio de Maria, mais surpreendente mesmo do que Sua Presença Eucarística. E como então? É que Ele Se encarnou, Ele Se personificou em Sua Verdade, e a Palavra que revela esta adorável Verdade torna-se Seu segundo Corpo, e o Apóstolo encarregado pelo próprio Jesus Cristo de pregar por toda a parte Sua Verdade substitui Maria dando à luz Jesus Cristo em Belém e, mais poderoso do que a Mãe de Deus, ele leva por toda a parte Jesus Cristo que então Se mostra e prega em todo o universo ao mesmo tempo e repete pelos lábios do Sacerdote Seus ensinamentos divinos.
Da mesma forma que Ele soube encontrar nos segredos de Seu Amor e de Seu Poder infinito o meio de Se reproduzir para fixar Sua Presença Real entre nós, assim também Ele soube encontrar o meio de reproduzir Sua Palavra. Notai que a mesma boca que reproduz Seu Corpo, reproduz também Sua Palavra. Mistério não menor do que aquele pelo qual Maria dá à luz Jesus Cristo, mistério que transforma ainda o Sacerdote em Jesus Cristo, pois faz do Sacerdote um outro Cristo.
E eis porque Ele disse a respeito de Seus Sacerdotes: ‘Quem vos escuta Me escuta, quem Vos despreza Me despreza.’ [Lc 10,16] E eis porque ainda, Tertuliano disse: ‘O Filho de Deus dando-nos Sua Palavra vivificante, a chama também Sua Carne’. E o sábio Orígenes diz que a Palavra que alimenta as almas é uma espécie de segundo Corpo do qual Se revestiu o Filho de Deus.
Assim, meus irmãos, Jesus Cristo, por Sua Presença Real e substancial na Santíssima Eucaristia e na verdade de Sua Palavra apostólica, Se mostra e Se dá a nós em toda a Sua integridade e completa Sua promessa, e nos faz partilhar de uma maneira mesmo mais vantajosa e mais consoladora ainda a felicidade daqueles que viveram nos dias de Sua vida mortal.
E como? Jesus Cristo não fazia senão passar na Judéia e aqui Ele permanecerá eternamente conosco. Sua Palavra, toda divina embora sendo toda divina nos dias de Sua vida mortal, era menos poderosa do que hoje na boca de Seu Sacerdote. E por quê? Porque hoje esta Palavra foi vivificada em Seu Sangue na Cruz, porque ela saiu com Ele gloriosa do túmulo, porque o Espírito Santo a fecunda e anima com Sua graça.
No púlpito Ele publica Sua Lei, e sobre o Altar Ele a sanciona por Seu Sangue. Jesus Cristo Se faz adorar na verdade de Seu Corpo e Se faz reconhecer na verdade de Sua doutrina. De cada uma dessas duas mesas, Ele distribui aos filhos de Deus um Alimento celeste: sobre o Altar, pela eficácia do Espírito Santo e por palavras místicas nas quais não se deve pensar sem estremecimento, os dons apresentados se transformam no Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo; pelo mesmo espírito e pelo poder da Palavra divina devem ser secretamente transformados os fiéis de Jesus Cristo, para serem feitos Seu Corpo e Seus membros.
Portanto, como é digna de nosso respeito e de nosso amor, esta divina Palavra, meus irmãos, e como deve ser grande nosso reconhecimento para com Deus. Ah! Tomemos cuidado para não profaná-la, pois, diz Santo Agostinho, ‘aquele que escuta negligentemente a Palavra de Deus é tão culpado quanto aquele que por sua falta deixasse cair por terra o Corpo de Jesus Cristo’. E por quê? Porque, diz este grande Doutor, a Palavra de Deus merece tanto nosso respeito quanto o Corpo de Jesus Cristo.”