Desde 1851, o Padre estava preocupado em procurar os remédios para a indiferença dos cristãos; ele não encontrou outros senão a Eucaristia. No dia 22 de outubro de 1851, ele escrevia a uma senhora que gozava de sua direção espiritual:
“Tenho refletido com freqüência sobre os remédios para essa indiferença universal que se apodera de uma maneira assustadora de tantos católicos, e só encontro um: a Eucaristia, o amor de Jesus Eucarístico.
A perda da fé vem em primeiro lugar da perda do amor; as trevas, da perda da luz; o frio glacial, da morte e da ausência do fogo… Ah! Jesus não disse: Eu vim trazer a revelação dos mais sublimes mistérios, mas sim: Eu vim trazer fogo à terra, e como desejaria que já estivesse aceso [Lc 12,49].”
Em 11 de fevereiro de 1852, ele escrevia ainda à mesma pessoa: “… Agora é preciso lançar-se à obra, salvar as almas pela Divina Eucaristia… e despertar a França e a Europa entorpecida em seu sono de indiferença, porque ela não conhece o Dom de Deus, Jesus, o Emanuel Eucarístico.
É a tocha do amor que é preciso levar às almas tíbias, e que se acreditam piedosas e não o são, porque elas não estabeleceram seu centro e sua vida em Jesus no Santo Tabernáculo.
E toda devoção que não tem uma tenda no Calvário e outra em torno do Tabernáculo não é uma piedade sólida e jamais fará nada de grande. Parece-me que as pessoas se afastam demais da Divina Eucaristia, que não se prega bastante sobre este Mistério de Amor por excelência.
Então as almas sofrem, elas se tornam sensuais e materiais em sua piedade, apegando-se à criatura de uma maneira exagerada, porque elas não sabem encontrar sua consolação e sua força em Nosso Senhor…”
Esse meio, a pregação eucarística, o Padre Eymard o empregou durante os doze últimos anos de sua vida, e o bem feito nas almas através dele é incalculável.
O Padre tinha compreendido admiravelmente a necessidade atual de pregar a Eucaristia.
“Não se trata mais, dizia ele, de defender uma verdade de fé, mas o Rei da verdade atacado por toda parte; não é mais o momento de fazer profissão de tal ou tal virtude evangélica; é preciso mostrar e servir a Nosso Senhor abandonado em Seu Sacramento de Amor… é preciso pregar a Divina Eucaristia a tempo e a contra-tempo, por toda parte, sempre. É preciso que em toda relação de sociedade, que em todo ato exterior, Nosso Senhor tenha Sua parte.”
Foi no genuflexório, na Adoração, que o Padre Eymard adquiriu essa ciência do Santíssimo Sacramento que lhe permitia falar sempre da Eucaristia sem se repetir jamais.
“Aprendei, trabalhai o Santíssimo Sacramento, dizia o Padre aos Seus Religiosos; é uma mina a explorar… conhecei vossa profissão! Que vossas horas de Adoração dêem seus frutos!”
Ordinariamente ele não subia ao púlpito para pregar senão depois de ter passado um certo tempo diante de Nosso Senhor Exposto. Escrevia de ordinário, algumas notas e se penetrava do Santo Evangelho, sobretudo do Evangelho segundo São João que ele trazia sempre sobre o seu coração.
Podemos perceber nesse pequeno relato entremeado de palavras do grande Apóstolo da Eucaristia, São Pedro Julião Eymard, a força poderosa que tem a Santíssima Eucaristia na Obra Missionária da Igreja. E não podia ser diferente, visto ser ela a Presença viva e real de Jesus em nosso meio; portanto aí está todo o poder de salvação e de santificação para todas as pessoas.
O Beato Papa João Paulo II escreveu em sua Carta Encíclica: REDEMPTORIS MISSIO:
“Depois da Ressurreição e Ascensão de Jesus, os Apóstolos viveram uma intensa experiência que os transformou: o Pentecostes. A vinda do Espírito Santo fez deles testemunhas e profetas (cf. At 1,8; 2,17-18), infundindo uma serena audácia que os leva a transmitir aos outros sua experiência de Jesus e a esperança que os anima. O Espírito deu-lhes a capacidade de testemunhar Jesus ‘sem medo’…
As primeiras comunidades, onde reinava ‘a alegria e a simplicidade de coração’ (At 2,46), eram dinamicamente abertas e missionárias: ‘gozavam da estima de todo o povo’ (At 2,47). Antes ainda da ação, a missão é testemunho e irradiação.”
Que todos nós cristãos desta época marcada por tanta sede de Deus, e, ao mesmo tempo, por grandes marcas da falta da influência da Presença de Deus na vida concreta da grande maioria da humanidade, sejamos, assim como os primeiros cristãos, inteiramente dóceis à ação do Espírito Santo, que é “o Protagonista de toda a missão eclesial” [RMI Cap. III 21. b)].
A exemplo de São Pedro Julião Eymard, busquemos no contacto com Jesus Eucarístico a inspiração e a coragem para a nossa ação missionária.