Uma festa é um dia de triunfo. Celebra-se a bondade de um pai, a ternura de uma mãe, o poder de um rei, a dedicação de um amigo. Eis as festas da família e da sociedade. A Igreja tem também suas festas; ela celebra as virtudes de seus Santos, o triunfo de sua morte, sua glória celeste. Jamais as honras do triunfo prestadas a um general vencedor, a um soberano vitorioso se igualarão às honras religiosas rendidas à memória, às relíquias dos Santos, porque aqui são as virtudes sobrenaturais e evangélicas, é o amor puro e dedicado de Deus e do próximo que se louva. É Deus que é glorificado em Seus eleitos; eles passaram pela terra, não como uma dignidade que ofusca, como um poder que domina, como um valente armado que reina pela morte ou pela derrota de seus inimigos, mas, como seu Divino Mestre, eles passaram fazendo o bem [cf. At 10,38], e este bem permaneceu como uma divina semente no seio da pobre humanidade, que germina e floresce sempre para a Glória de Deus e para o bem de todos.
Mas se a festa dos servos é tão bela e tão tocante, qual deve ser a festa do Rei Celeste, do Salvador Jesus? É a festa das festas, chama-se a Festa de Corpus Christi, em linguagem litúrgica, a Festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.
A Festa de Corpus Christi deveria ser celebrada na Quinta-feira Santa, dia para sempre memorável, em que o Salvador, antes de Se entregar aos Seus inimigos para morrer por nós, quis deixar-nos como Testamento, sob a forma de um Sacramento visível e permanente, Seu Corpo, Seu Sangue, Sua Alma e Sua Divindade, numa palavra, toda a Sua Pessoa Adorável na Divina Eucaristia.
Mas a Quinta-feira Santa, com a sua tocante graça da Ceia e a Primeira Comunhão dos Apóstolos, se encerra no Jardim das Oliveiras, com a traição de Judas e o começo da Paixão do Salvador [cf. Mt 26,26-56], a festa não é completa, e, além disso, a Morte tão dolorosa e tão humilhante de Jesus [cf. Mt 27, 45-50], Nosso Bom Mestre, está muito próxima desta festa Eucarística para nos entregarmos a uma alegria completa; eis porque a Santa igreja, sempre sublime em seus pensamentos, sempre grande em suas leis, escolheu a primeira quinta-feira após a oitava de Pentecostes para celebrar a Festa de Corpus Christi. Esta quinta-feira herda o fervor e a santidade dos Apóstolos que o Espírito Santo acaba de esclarecer e de transformar em homens novos. Os fiéis munidos dos sete dons divinos estão mais dignos de celebrar a festa do augusto Sacramento dos Altares.
Depois da maior das festas, aquela que é o princípio e o fim de todas as festas da terra e do Céu, ou seja, a Festa da Santíssima Trindade, é pois justo que a Festa do Corpo do Senhor lhe suceda em todo o seu esplendor, e pela homenagem de tudo o que a natureza tem de belo, a sociedade de grande, e a Santa Igreja de santo e de magnífico.
A natureza
No dia da Festa de Corpus Christi, ela vem toda inteira honrar seu Criador e Salvador; as flores nas cores mais variadas, com seu perfume puro e suave, decoram Seu Altar, ornamentam os lugares honrados por Sua passagem régia, e formam-Lhe um tapete de honra, felizes em serem pisadas pelo Rei do Céu e da terra.
O incenso do Oriente arde diante d’Ele e o ar, embalsamado por seu perfume celeste, recolhe a alma quando o Deus da Eucaristia passa.
Tudo o que o homem tem de mais belo, de mais precioso é usado na Festa de Corpus Christi. Os belos tapetes de festa cobrem os muros, os vasos preciosos decoram o Altar da Reposição. Cada um quer trazer seu tributo de homenagem, quer honrar a visita do Bom Deus aos Seus filhos.
Mas quem poderá revelar os pensamentos, os sentimentos, as preces da alma cristã à vista de seu Deus que passa diante de sua casa, da mãe que Lhe apresenta seus filhos, do pai à frente de sua família. Com que fé tudo o que é cristão se prostra, adora e pede uma bênção espiritual e temporal!… É este o mais belo triunfo de Jesus na terra.
A sociedade
Todos os grandes e poderosos da sociedade formam o cortejo de honra de Jesus Sacramentado. Ninguém se admira de ver os soberanos com toda a glória da dignidade real, a pé, com a cabeça descoberta, na primeira fila, acompanhando o Santíssimo Sacramento. Após eles, os ministros, os chefes dos exércitos, a magistratura em todas as suas ordens, as ciências, as artes na glória de seus discípulos; tudo vem honrar e glorificar o Deus da Eucaristia.
Todas as classes da sociedade se reúnem, se comprimem para vir prestar homenagem a Jesus Cristo, para acompanhá-LO e lançar flores em sua passagem. Nas cidades, esta festa é tão esplendorosa quanto possível, todos concorrem para o seu brilho; nos campos, por ser mais simples, ela não é menos bela e tocante.
A Santa igreja
A Festa de Corpus Christi é a gloriosa festa da igreja.
Como os Babilônios ao povo de Deus cativo, o mundo diz à Igreja: “Onde está vosso Deus?” [Sl 41,4] Mas como a Igreja só mostra um Deus aniquilado sob as espécies Eucarísticas e um templo frequentemente deserto e pobre, o mundo a despreza como se despreza uma viúva abandonada, e a Igreja sofre com paciência e na oração as humilhações e as perseguições feitas ao Seu Divino Esposo, pois não é a hora do triunfo mas a do combate. Virá o dia da eternidade em que o Salvador defenderá Sua Igreja e a coroará com Sua própria glória. Mas já como o começo desta glória, Ele lhe dá Sua Festa de Corpus Christi. Como é radiosa neste dia a Santa igreja! Ela se enfeita com seus belos ornamentos de festa; é a festa de seu Real e Divino Esposo. Seus cantos são mais solenes, são os cantos do triunfo do amor, que o angélico doutor São Tomás de Aquino compôs aos pés da Eucaristia; Seu sacerdócio está, neste dia, em toda a sua glória, em torno do Trono do Pontífice Eterno.
Sim! Neste belo dia, somente Jesus Cristo é grande; todas as grandezas se prostram aos Seus pés e O adoram, é como quando o sol aparece, o brilho das estrelas se eclipsa.
( Extraído das Obras Completas de São Pedro Julião Eymard – Volume XII)