O céu, eis portanto o objeto de todos os meus votos e de todos os meus trabalhos, mas, sendo eu um viajante ignorante, quem guiará meus passos no caminho que aí conduz, quem será minha luz e meu guia no meio das trevas e dos erros da vida? E já que o céu não é senão o complemento e a perfeição da vida de fé do cristão, quem me fará conhecer Deus, quem me fará vê-LO e gozar d’Ele neste mundo?
Meus irmãos, este Guia, este Mestre, esta Imagem substancial da divindade é Jesus Cristo, é Ele que é a verdadeira Luz de todo homem que vem a este mundo. É Ele que é o Sol de justiça que alegra nosso espírito pelos esplendores eternos, que vivifica nosso coração por esse fogo de amor que Ele trouxe do Céu à terra. É Jesus Cristo que é o único Caminho para o céu, a Verdade sem nuvem, a Vida eterna. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida [Jo 14,6].
Conhecer Jesus Cristo e conhecê-LO todo inteiro, eis portanto a grande, a indispensável ciência do cristão. Como eu me consideraria feliz, meus irmãos, se eu tivesse a felicidade de despertar em vossos corações um grande desejo, uma santa competição para conhecer Jesus Cristo, ou melhor, para vos aperfeiçoardes neste conhecimento divino. E se já tendes a felicidade de conhecê-LO, nós nos alegraremos juntos, redizendo Suas perfeições e Suas graças.
A grande infelicidade do homem é não conhecer Jesus Cristo. O maior número não O conhece, um grande número O conhece mal ou imperfeitamente, poucos têm a plenitude deste conhecimento requerido para a salvação.
1º O maior número não O conhece. Provas de fato: o esquecimento de Jesus Cristo, o silêncio exclusivo de Seu Nome pela sociedade, o espanto quando se fala d’Ele. Os sábios não se ocupam d’Ele, seus livros estão cheios de todas as ciências dos povos – o nome de Jesus Cristo não está aí, ou está ao lado de uma divindade pagã, […]; eles não O conhecem. Os moralistas públicos estão cheios de regras, de belas utopias, mas o Nome, a moral de Jesus Cristo aí não estão.
Suponho um selvagem que viesse à França para aqui conhecer nossa religião, nosso Deus – impossível para ele! […]
De onde vem esta ignorância? Do demônio, da primeira educação, do esquecimento, das paixões. Esta ignorância é a maior infelicidade do homem. Infelicidade de um viajante extraviado, de um doente abandonado, de um órfão. Esta ignorância é a punição de sua infidelidade. […]
Ah! agradeçamos a Deus, meus irmãos, por conhecê-LO, apreciemos nossa felicidade, não sejamos infiéis. Rezemos. Santificado seja o Vosso Nome [Mt 6,9].
2º Um grande número O conhece mal ou imperfeitamente. Confessar-se-á que Jesus Cristo foi um grande Homem, Ele será colocado em pé de igualdade com os grandes homens da Antiguidade, até mesmo receberá lugar à frente dos legisladores humanos, de Solon, de Lycurgo, de Numa. Ser-Lhe-á feita a honra de colocá-LO ao lado dos filósofos antigos. Ele receberá alguns louvores, como Rousseau, eis, portanto, onde se limitam todo o seu conhecimento, todo o culto que Lhe é prestado. Os demônios fazem mais, diz São Tiago, eles tremem diante d’Ele: os demônios crêem, mas estremecem [Tg 2,19].
Outros crêem em Jesus Cristo Deus e Homem numa única Pessoa Divina, eles crêem na verdade de Sua doutrina, na santidade de Sua moral, mas tudo se limita a um conhecimento estéril, e que não fará senão acrescentar à sua condenação o crime do servo inútil e infiel.
Ah! se os selvagens tivessem essa felicidade! A primeira vez que se lhes fala de Jesus Cristo, eles ficam fora de si mesmos, eles não podem compreender tanto amor. Por isso todos os seus pensamentos se concentram n’Ele, falam somente d’Ele. […]
Um dia um missionário foi visitar uma ilha por ocasião da Páscoa. Confessar. Ninguém vinha. Enfim, ele se aproximou de um grupo, e… o mais velho se aproximou d’Ele e lhe disse chorando: “Por que nos falas para nos confessarmos? Tu acaso não sabes que nos batizastes há um ano, e que agora que conhecemos Jesus Cristo, tu acreditas que somos capazes de ofender um tão Bom Pai?” E o pobre missionário chorou de alegria por ter gerado para Jesus Cristo tão dignos filhos.
3º Enfim um pequeno número tem a plenitude do conhecimento de Jesus Cristo. É o conhecimento do espírito de Jesus Cristo, é a conformidade a este espírito, para dizer como São Paulo: Vivo, mas já não sou eu que vivo [Gl 2,20].
Como conhecê-LO?
- Estudar Sua vida. Isto não basta.
- Meditar Sua vida. Eis onde se adquire Seu espírito, onde este espírito nos é infundido, onde nos tornamos um com Ele, onde gozamos d’Ele, onde O escutamos, onde Lhe falamos, partilhamos a felicidade dos Apóstolos, dos Santos no céu.
- Meditar por Maria.
(Meditação tirada das Obras Completas de São Pedro Julião Eymard – Volume X)