Por que pois esta necessidade de sofrimentos em Nosso Senhor? Porque Ele era Reparador. O pecado era um prazer: o que reparava o pecado devia ser uma pena. Amar para gozar é insultar aquele que se ama; amar até sofrer, eis o amor verdadeiro: o amor se doa, se sacrifica, é seu selo. Não era preciso que o Cristo sofresse… Isto é dito também de nós que devemos retraçar Jesus Cristo em nós. Pois nossa santidade é baseada na Cruz.
Não existe virtude sem sofrimento. O sofrimento é a concepção da virtude em nós. Aquele que não sofreu não sabe o que é a virtude. O Salvador estando sempre a glorificar o sofrimento, os Apóstolos não compreendiam nada; eles chegavam a cortar-Lhe a palavra: eles tinham medo de compreender que para ir ao Céu, é preciso sofrer.
Mas desde esta vida presente, o Salvador promete a glória após o sofrimento; é o que Ele faz em Sua Ressurreição: se Ele tivesse somente glorificado o Céu após a morte, quão poucas almas teriam abraçado a fé; o Céu está longe demais. É preciso uma sanção presente: a graça, não a santificante mas a graça de favor, de alegria. Na Ressurreição, o Salvador glorifica Sua Paixão e o sofrimento; Ele triunfa, Ele mostra que ela é bela, gloriosa para Deus.
Todo o amor, todos os milagres do Salvador não bastam para abafar o escândalo da Paixão. Eles não crêem na Ressurreição. Madalena está em delírio, dizem eles. Pedro e João crêem que o tiraram. Os discípulos de Emaús estão tristes. Os Anjos que anunciam a Ressurreição, em lugar de consolá-los, os assustam. Eles não acreditam, estavam ainda sob o escândalo de Seus sofrimentos. Jesus Cristo ressuscita para glorificar a verdade, para sancionar a justificação pela Cruz.
Apenas ressuscitado, a glória Lhe vem na medida de Seus sofrimentos. A cabeça foi o que mais sofreu n’Ele: ela está mais gloriosa. Colocastes sobre Sua cabeça uma coroa de ouro fino [Sl 20,]. As mãos são sóis brilhantes; Seu Coração transpassado, uma fornalha ardente. O que sofreu menos é menos glorioso: é a doutrina da Igreja. Jesus Cristo é glorificado porque sofreu. Vede como Ele é glorioso: Ele entra na plenitude da vida divina; Seu corpo tem as propriedades dos corpos celestes. É Ele o Leão de Judá? [cf. Gn 9,9] Quem ousará combater contra Ele? Ele tem um enxame de abelhas na boca. São Suas palavras. Ele é forte e manso. Não se sabe qual foi a medida da alegria e da felicidade do Salvador depois da Ressurreição, porque não se sabe a medida de seus sofrimentos. A Ressurreição é a glorificação do sofrimento atual. le Se manifesta já de imediato cheio de vida. Ele mostra que Seu corpo é verdadeiro. Realiza ações humanas como antes.
Ele glorifica o sofrimento dando a vida a Seu corpo morto.
Ele é Homem e Deus ressuscitado.
A glória não se manifesta por completo externamente. Os discípulos teriam tido medo: eles tiveram medo de um anjo, o que seria em relação a Deus? Jesus Cristo guarda Sua glória inteira para a Ascensão e para o Céu. Aqui Ele mostra Sua glória humanizada. Nós precisávamos ver a necessidade da humildade com a glória. Mesma doçura, mesma forma, mesma afabilidade em Nosso Senhor, Ele não Se afasta.
Ele nos leva assim ao estado sacramental onde Ele une ainda a Divindade a fracas espécies criadas. Ele pode mudar de forma, não de natureza.
Mais ainda, a Ressurreição é uma comunicação da bem-aventurança. Ele aparece àqueles que sofreram com Ele e Se une a eles. Ele comunica a cada um a felicidade na medida de Seus sofrimentos. Ele aparece em primeiro lugar a Maria, é a tradição. Maria sofreu tanto como Mãe; Ela, tão pura, deve ter sofrido tanto por causa do pecado e pelo mal que ele é para Deus. Seus sofrimentos são inspirados unicamente pelo amor. Eles são contínuos. Pois não se explica como Nosso Senhor tenha sido tão duro para com Ela. É preciso pensar em Seu título de co-Redentora; do contrário ficaríamos escandalizados. O bom filho honra a mãe, evita-lhe as lágrimas. Jesus humilhou Maria, Ele foi duro em palavras. No caminho do Calvário, Ele consola as filhas de Jerusalém, e nada diz à Sua Mãe. Por quê? Ah! Maria não tem necessidade de consolação. Este belo jardim se cultiva cravando nele o ferro; este belo diamante é provado na fornalha ardente. Na Cruz Jesus continua sendo duro. Mas após a Ressurreição, quem dirá as bondades de Jesus por Maria?
No entanto, os Evangelistas não dizem nada sobre isto. Eles falam de Simão: este homem que tinha negado seu Mestre. Eles falam de Madalena. De Maria? Nada. Ah! As palavras lhes faltavam! Que abraços, que alegria!
Maria tinha sofrido tanto! Agora, Ela gozava tanto mais. Jesus aparece em seguida a Madalena. Madalena tinha sofrido muito, porque ela muito amou. Ela permanece junto ao sepulcro. Ela chora; olha uma, duas, três vezes; ela é enfim recompensada; vê o Mestre. Mas ela não tinha glória. Por quê? Porque não poderíamos falar-lhe; a glória é para o Céu, para este mundo a graça.
Não peçais cruzes, aceitai aquela que tendes, contentai-vos com ela; aceitai também a alegria, a ressurreição, a graça; é o começo da bem-aventurança. Maria! Que palavra! Reconhece-se bem esta voz. Rabboni! [Jo 20,16] Como ela corresponde bem. Ele aparece a Pedro que tinha chorado, que tinha sofrido; Ele o sacia, lhe devolve a alegria.
A Ressurreição é uma graça de alegria. O Salvador Se digna consolar em particular aqueles que mais sofreram. Direis, eu não estava lá. Isso não quer dizer nada, a graça da ressurreição continua. Quando sofremos, logo depois nos vem a alegria. Nós o experimentamos bem. Se Deus não nos encorajasse, nós não permaneceríamos aos Seus pés.
Conclusão
A Paixão é a base da glória. O sofrimento, a medida da felicidade. Nós continuamos Jesus Cristo por nossa fidelidade. Nosso fundo de glória é a Paixão; Ele nos faz passar pelas cruzes, logo depois da graça. É preciso subir ao Calvário para chegar à glória. Ele lhes diz: Não era necessário que o Cristo sofresse… [Lc 2,26]. toda a economia de nossa felicidade está no sofrimento. E para poder suportar Jesus Crucificado, é preciso ver Jesus ressuscitado. Pois bem, não procureis uma outra paixão além da vossa, ela vos basta. E o mundo tem a sua. A Igreja tem seu Calvário. Ela sofre; mas com o sofrimento vem a glória.
A estabilidade das obras vem do sofrimento, não dos reis, não do dinheiro.
OBRAS COMPLETAS / Volume XII